Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho para sempre.
Assim acontece com a gente.
As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo.
Quem não passa pelo fogo, fica do mesmo jeito a vida inteira.
São pessoas de uma mesmice e uma dureza assombrosa.
Só que elas não percebem e acham que seu jeito de ser é o melhor jeito de ser.
Mas, de repente, vem o fogo.
O fogo é quando a vida nos lança numa situação que nunca imaginamos: a dor.
Pode ser fogo de fora:
perder um amor, perder um filho, o pai, a mãe, perder o emprego ou ficar pobre.
Pode ser fogo de dentro:
pânico, medo, ansiedade, depressão ou sofrimento, cujas causas ignoramos.
Há sempre o recurso do remédio: apagar o fogo!
Sem fogo o sofrimento diminui. Com isso, a possibilidade da grande transformação também.
Imagino que a pobre pipoca, fechada dentro da panela,
lá dentro cada vez mais quente, pensa que sua hora chegou:
vai morrer.
Dentro de sua casca dura, fechada em si mesma,
ela não pode imaginar um destino diferente para si.
Não pode imaginar a transformação que está sendo preparada para ela.
A pipoca não imagina aquilo de que ela é capaz.
Aí, sem aviso prévio, pelo poder do fogo a grande transformação acontece:
BUMMMMMM!
E ela aparece como uma outra coisa completamente diferente,
algo que ela mesma nunca havia sonhado.
Bom, mas ainda temos o piruá, que é o milho de pipoca que se recusa a estourar.
São como aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente, se recusam a mudar.
Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa do que o jeito delas serem.
A presunção e o medo são a dura casca do milho que não estoura.
No entanto, o destino delas é triste, já que ficarão duras a vida inteira.
Não vão se transformar na flor branca, macia e nutritiva.
Não vão dar alegria para ninguém.
Rubem Alves
terça-feira, 27 de maio de 2008
O Milho da Pipoca
domingo, 25 de maio de 2008
HQ - Editor de Histórias em Quadrinhos
O software HagáQuê é uma ótima possibilidade de editor de histórias em quadrinhos com fins pedagógicos, é desenvolvido para a plataforma Windows (ainda não possui equivalente no LINUX, uma pena mesmo) de modo a facilitar o processo de criação de uma história em quadrinhos, seja por uma criança ainda inexperiente no uso do computador, seja por um adolescente no ensino médio aplicando seus conhecimentos em aquecimento global, por exemplo. A ação criativa pode ser amplamente cultivada nesse programa que possui as formas internas do próprio programa e ainda conta com a possibilidade de importar imagens.
segunda-feira, 19 de maio de 2008
O Rádio é a Escola dos que não tem Escola
Essa citação de Roquette Pinto, que lemos no título da postagem, identifica muito bem o quanto era visionário. Imagine ligar seu rádio neste instante e ouvir transmissões de palestras, aulas de Língua Portuguesa, História do Brasil, Geografia, Física, Química e cursos práticos sobre Rádio, Telegrafia, Telefonia e Silvicultura? Pois esses eram alguns dos principais programas transmitidos pela primeira emissora do país, a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, fundada em 1923.
Idealista, o professor e antropólogo Roquette Pinto acreditava no poder de levar educação e cultura ao povo brasileiro usando uma surpreendente novidade tecnológica: o rádio. Naquela época já se percebia o potencial educativo do rádio como forma de propagar o saber, graças ao seu alcance, visando à melhoria da educação, diante do grande índice de analfabetismo da época.
terça-feira, 13 de maio de 2008
A Evolução do Mundo através das Mídias
O mundo caminhou rápida e constantemente para grandes transformações sociais e econômicas, além de grande desenvolvimento na área de comunicação, esta revolução fez com que as relações de convívio entre as pessoas se modificassem radicalmente, hoje mantemos contato de amizade com pessoas que, necessariamente nem precisamos conhecer.
Encurtaram-se as distâncias, expandiram-se as fronteiras, o mundo ficou globalizado. As novas mídias e tecnologias estão relacionadas com todas essas transformações. Tentar entendê-las é uma exigência de todo profissional de educação.
domingo, 11 de maio de 2008
Os processos Educacionais e a Cultura Digital
A alfabetização, no letramento, nos processos educacionais sofre uma profunda transformação com a chegada das novas tecnologias e da cultura digital. Essas rupturas se mostram tão radicais que estão exigindo a reconstrução de alguns elementos básicos da escola.
Rever os nossos referenciais teóricos, pois os pensamentos de Piaget, Vygotsky e Ferreiro foram adequados a um outro momento, serão necessárias novas pesquisas para uma grande adaptação desses pressupostos, uma verdadeira reavaliação do sujeito na educação de hoje.
Outro fator que precisa ser revisto é nosso currículo, pois nosso jovem domina muito mais as tecnologias do que nós professores, fazendo com que uma parceria seja inevitável. As cabeças essencialmente hipertextuais sobrepujaram as antigas leituras lineares, vislumbrando um horizonte de possibilidades até então inconcebível. A sala de aula precisa ser um grande laboratório onde os sujeitos devem estar sempre dispostos a aprender e a propor avanços e novos horizontes, independentes e construtivos. O papel do professor mudou radicalmente, pois, muito mais do que mestre, ele precisa ser um grande mediador de conteúdos e direcionador de caminhos que cada vez mais serão trilhados pelo indivíduo que seguirá todo seu processo pessoal de conhecimento.
Por isso a outra necessidade é de que, nós professores, precisaremos estar reinventando nossa profissão a cada dia. A postura de um professor deve ser pautada na criação de estratégias que possibilitem ao aluno a construção de seu próprio conhecimento, dialogando entre as disciplinas e descobrindo maneiras de desenvolver as diversas competências. Esse caminho não poderá ser traçado sem a anuência do próprio aluno. O estímulo a consciência crítica deve possibilitar ao indivíduo a construção de sentidos e significados de mundo através de atitudes compartilhadas, coletivas e sociais.
Para Cristina Portugal “o caminho para se repensar uma educação nos moldes pós-modernos é não utilizar o computador apenas como ferramenta, mas como agente transformador do processo educacional como um todo. É necessário clareza em relação aos objetivos da introdução das novas tecnologias nas escolas, pois os computadores, por exemplo, não possuem uma característica intrinsecamente interativa e transformadora. É o modo como a escola o utiliza que determina se sua função será de estímulo à criatividade, de transmissor de informações, de incentivador de novas formas de sociabilidade e de desenvolvimento de determinadas habilidades cognitivas.”
quarta-feira, 7 de maio de 2008
A influência das novas tecnologias em nossas vidas
O tempo todo estamos vendo a necessidade de reinventarmos nossa profissão, professor dos novos tempos, professor antenado as novas tendências tecnológicas. "Estamos deslumbrados com o computador e a Internet na escola e vamos deixando de lado a televisão e o vídeo, como se já estivessem ultrapassados, não fossem mais tão importantes ou como se já dominássemos suas linguagens e sua utilização na educação.
A televisão, o cinema e o vídeo - os meios de comunicação audiovisuais - desempenham, indiretamente, um papel educacional relevante. Passam-nos continuamente informações, interpretadas; mostram-nos modelos de comportamento, ensinam-nos linguagens coloquiais e multimídia e privilegiam alguns valores em detrimento de outros." José Manuel Moran
Livros: O mundo numa rede encantada
Eu era pequena, não sei bem que idade tinha.
Só sei que tinha altura suficiente para poder ficar de pé em frente à escrivaninha de meu pai, apoiar nela os braços e, sobre eles, o queixo. Bem grande, diante de meus olhos, ficava uma estatueta de bronze: um cavaleiro magro de lança na mão, montado num cavalo esquelético, seguido por um burrico onde ia encarrapitado um sujeito gorducho segurando um chapéu na ponta do braço estendido, como quem dá vivas.
Respondendo a minha pergunta, meu pai me apresentou os dois:
- Dom Quixote e Sancho Pança.
Quis saber quem eram, onde moravam. Aprendi que eram espanhóis e moravam há séculos numa casa encantada: um livro. Em seguida, meu pai interrompeu o que estava fazendo, foi até a prateleira, pegou um livrão e começou a me mostrar as figuras e contar a história daqueles dois. Numa das ilustrações, Dom Quixote estava cercado de livros.
- E dentro desses aí, mora quem? - quis saber.
Pela resposta, comecei a perceber que havia livro de todo tipo e dentro deles morava o infinito. A partir daí, pelas mãos de meus pais, fui conhecendo alguns deles, como Robinson Crusoé em sua ilha, Gulliver em Lilliput, Robin Hood em sua floresta. E descobri que as fadas, princesas, gigantes e gênios, reis e bruxas, os três porquinhos e os sete anões, o patinho feio e o lobo mau, todos eles velhos conhecidos meus das histórias que eu ouvia, também moravam em livros.
Mais tarde, quando aprendi a ler, quem passou a morar nos livros fui eu. Conheci personagens de contos populares do mundo inteiro, em coleções que me fizeram percorrer da China à Irlanda, da Rússia à Grécia. Me embrenhei de tal maneira nos livros de Monteiro Lobato, que posso dizer que me mudei durante uns tempos para o sítio do Pica-pau Amarelo, era lá que eu vivia. Era um território livre e sem fronteiras. Com a mesma facilidade pude morar no Mississipi com Tom e Huck, cavalguei pelos bosques da França com D'Artagnan, me perdi no mercado de Bagdad com Aladim, voei para a Terra do Nunca com Peter Pan, sobrevoei a Suécia montada num ganso com Nils, me meti pela toca de um coelho com Alice, fui engolida por uma baleia com Pinóquio, persegui Moby Dick com o capitão Ahab, naveguei pelos mares com o Capitão Blood, procurei tesouros com Long John Silver, dei a volta ao mundo com Phileas Fogg, fiquei muito tempo na China com Marco Polo, vivi na África com Tarzan, no alto das montanhas com Heidi e numa casinha na campina com a família Ingall, fui menina de rua em Londres com Oliver Twist e em Paris com Cosette e os miseráveis, escapei de um incêndio com Jane Eyre, fui à escola de Cuore com Enrico e Garrone, segui um santo homem na Índia com Kim, sonhei em ser escritora com minha querida Jo Marsh, fiz parte do grupo dos Capitães da Areia com Pedro Bala pelas ladeiras da Baía... e a partir daí fui cada vez mais lendo livros de gente grande.
Assim mesmo. Sem fronteiras geográficas nem faixa etária, tudo comunicando com tudo, interligando-se por todos os lados, numa rede de casas encantadas.
Até que, de conhecer tantos mundos, fui criando os meus. E comecei a dividir com os outros, nos livros que faço, tudo o que mora dentro de mim.
(Ana Maria Machado, escritora brasileira premiada)